Ondas de calor e seca: os inimigos invisíveis

Ondas de calor e secas parecem silenciosas, mas drenam orçamentos públicos, lotam hospitais e reduzem a produtividade local. A boa notícia? Cada real colocado em prevenção poupa até seis na conta do conserto. A seguir, mostramos o porquê — e como agir agora.

Altas de 44 °C viraram rotina no Rio; na favela da Maré a sensação chegou a 60 °C em março de 2025 elpais.com. São Paulo, por sua vez, registrou temperaturas 8 °C mais quentes em Paraisópolis que no vizinho Morumbi . Em 2024, 58 % do território brasileiro esteve sob seca moderada a extrema . Se o clima fosse um alarme de incêndio, ele já estaria tocando sem parar.

(c) SEBRAE-SP - Public domain

Ilha de calor: termômetro urbano

O fenômeno ocorre quando asfalto, concreto e pouca vegetação formam um “forno” urbano . Resultado? No centro o termômetro sobe, nos bairros periféricos sobe ainda mais. Calor vira questão de justiça social — e ambiental.

Dados que falam alto

  • Favelas do Rio: até 8 °C acima de bairros próximos elpais.com.
  • São Paulo: diferença de 9 °C entre zonas vizinhas .
  • Projeção C40: número de cidades expostas a extremos de calor triplica até 2050 .

A conta chega na saúde: Em 2023 o Estado de São Paulo viu crescer 102 % os atendimentos por efeitos do calor em apenas sete meses . Fiocruz alerta: estresse térmico e queimadas já pressionam emergências em todo o país .

Anedota rápida: em Jataí (GO), a diretora de um pronto-socorro contou que precisou improvisar “salas frescas” com climatizadores alugados para idosos durante a última onda de calor. Resultado? Conta de energia 40 % maior em um único mês — mais que o custo anual de plantar árvores na rua principal, segundo ela mesma.

Seca 2021 – 2024: retrato do Semiárido

  • Safra de soja 2021/22 perdeu R$ 72 bi só por falta d’água .
  • 963 municípios tiveram mais de 80 % da área agroprodutiva impactada em 2024 .
  • Comissão da Câmara prevê nova seca “atípica” no Nordeste em 2024, exigindo ações emergenciais .

Prevenir sai (muito) mais barato: A ONU calcula que cada R$ 1 em infraestrutura resiliente economiza R$ 6 em danos futuros . Estudos nacionais mostram que perdas econômicas por ondas de calor já afetam PIB agro, energia e serviços . Enquanto isso, o agronegócio amarga quase R$ 100 bi em prejuízos anuais pela seca .

E agora?

  1. Mapeie pontos quentes no seu município — sensores de baixo custo fazem isso em dias.
  2. Priorize vegetação e telhados frios em escolas, postos de saúde e favelas.
  3. Estoque água e modernize cisternas nas zonas rurais secas.
  4. Inclua metas de clima nos próximos editais de obras públicas.

Chamada para ação

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Recife 2022: o caso que mostra por que a resiliência não pode esperar

Entre 24 de maio e 7 de junho de 2022, chuvas torrenciais castigaram a Região Metropolitana do Recife e deixaram 133 mortos.

Hoje — quase três anos depois — contamos com estudos e relatórios consolidados que permitem avaliar com precisão o impacto humano, social e financeiro dessa tragédia e aprender com as falhas que a ampliaram.

Juntamos alguns números que ajudam a entender — da escala macro à realidade vivida no dia a dia:

https://climainfo.org.br/

Do macro…

  • 133 mortes em Pernambuco, entre elas 23 crianças.
  • 130 mil pessoas afetadas e quase 17 % da área urbana do Recife alagada em 28 de maio.
  • R$ 3 bilhões em prejuízos acumulados no Nordeste entre dezembro de 2021 e maio de 2022 — antes mesmo de fechar a conta de Pernambuco.

Esses valores não cabem no orçamento anual de boa parte das prefeituras brasileiras. Pergunta simples: dá para ignorar?

A conta invisível: Chuvas extremas paralisaram comércio e transporte; ISS e ICMS despencaram enquanto o gasto emergencial disparava. Nos bastidores, um dado salta: o Recife investiu menos de 2 % da arrecadação em obras de prevenção entre 2017 e 2021; só R$ 80 milhões de R$ 5,3 bilhões.

Quando o morro desliza, a fatura chega multiplicada.

…ao micro

Um morro, uma noite, 44 vidas

Jardim Monte Verde, divisa Recife–Jaboatão. Às 3 h da manhã, um paredão de lama levou 44 casas de uma vez. Maria, agente de saúde, escapou por centímetros; perdeu vizinhos, prontuários, a própria casa. Hoje recebe R$ 300 de auxílio-moradia e ainda espera o reassentamento prometido.
Anedota? Não. É a rotina de quem mora onde “nunca chove tanto assim”… até chover.

Barreira cedeu e matou dezenas de pessoas em Jardim Monte Verde, entre o Recife e Jaboatão — Foto: Pedro Alves/g1

Infraestrutura que não deu conta — o que falhou, em detalhes

  • Drenagem subdimensionada. Em 24 h choveu até 236 mm em alguns pontos do Recife — mais de 70 % da média de todo o mês de maio — e o sistema de macrodrenagem, já sobrecarregado por assoreamento e ocupação desordenada, entrou em colapso. Entre 2017 e 2021 a prefeitura destinou apenas 1,48 % do orçamento anual ao programa de gestão de risco em morros e áreas alagáveis, valor insuficiente para ampliar galerias pluviais ou desassorear canais.
  • Encostas sem contenção. Quase 67 % do território recifense é formado por morros, mas nos últimos dez anos só 17 % do que estava previsto para obras de estabilização foi de fato executado.O resultado foi o deslizamento em Jardim Monte Verde
  • Sistema de alerta que falhou. Muitas comunidades ainda dependiam apenas de SMS; sirenes fixas sequer haviam sido instaladas. A tragédia de 2022 levou a Assembleia Legislativa de Pernambuco a propor, em 2023, a implantação urgente de sirenes sonoras em todas as áreas de risco — um reconhecimento explícito de que o alerta não chegou a tempo.
  • Quando a água baixou, ruas viraram crateras e escolas viraram abrigos. O asfalto cedeu em vários trechos; reportagem do JC registrou buracos profundos espalhados pelo Grande Recife dias depois das chuvas.JC Para acolher quem perdeu a casa, a Secretaria de Educação abriu 14 escolas e creches como abrigos temporários já no dia 28 de maio

Cada um desses pontos revela a mesma lição: investir antes custa muito menos do que correr atrás dos estragos depois.

Lições para sua cidade

  • Mapeie risco antes da obra: saber onde moram as 10 % famílias mais expostas custa menos que um quilômetro de asfalto.
  • Reserve verba de prevenção: cada R$ 1 investido antes evita R$ 4 a R$ 15 depois, segundo o Banco Mundial — números que fazem o secretário de Fazenda respirar aliviado.
  • Integre obras verdes: parques-drenagem e taludes revegetados seguram a encosta e viram área de lazer em tempo seco.
  • Plano de resposta testado: simulado anual com Defesa Civil e comunidades. Melhor tremer na simulação do que tremer na madrugada real.

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Este estudo de caso utilizou as seguintes fontes – leia mais para encontrar mais detalhes:

O cenário nacional da inação: números que não podem ser ignorados

Você deixaria um cano estourado vazando por anos dentro da sua casa, sabendo que a conta só vai subir? Pois é isso que está acontecendo em boa parte das cidades brasileiras quando o assunto é adaptação climática. A diferença? Aqui, o vazamento é invisível — mas os custos são imensos.

Segundo o Primeiro Relatório Bienal de Transparência do Brasil (BTR 2024), a falta de ação frente aos riscos climáticos pode gerar R$ 1,8 trilhão em perdas no PIB nacional até 2050. Sim, trilhão com “t”. Isso equivale a todo o orçamento de saúde do país por mais de 10 anos.

Mas não para por aí. A inação tem reflexos diretos no seu dia a dia como gestor:

  • Menos arrecadação: empresas param, o comércio fecha, o ISS some.
  • Mais gastos em saúde pública: ondas de calor aumentam internações; enchentes trazem doenças.
  • Menos empregos sustentáveis: a cidade que não se adapta, trava.
Panorama photograph of the river Waal, with the ancillary channel (de Spiegelwaal) and the river island.

Photograph by DaMatriX, 2017.
Accessed via Wikimedia.

Creative Commons License
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Quer um exemplo concreto? Na cidade de Nijmegen, na Holanda, o projeto “Room for the River Waal” foi implementado para aumentar a capacidade do rio Waal e proteger a cidade contra inundações. O projeto, com um custo estimado de €351 milhões, resultou em benefícios superiores a €295 milhões, incluindo a redução do risco de inundações e a valorização imobiliária nas áreas adjacentes. Esse retorno positivo demonstra como investimentos em infraestrutura resiliente podem ser economicamente vantajosos. Climate-ADAPT

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Porque esperar custa — e muito.

Diagnóstico do Risco: Onde estamos e por que isso importa

Imagine um médico que prescreve um remédio sem nem perguntar o que você sente. Parece absurdo, certo? Mas é exatamente isso que acontece quando uma prefeitura tenta agir contra enchentes, secas ou calor extremo sem antes entender, de forma clara, onde estão suas maiores vulnerabilidades. O diagnóstico de risco climático é o primeiro passo. Sem ele, qualquer ação vira adivinhação — e, na gestão pública, isso custa caro.

No Brasil, enfrentamos uma combinação potente de riscos:
🌧️ Inundações cada vez mais intensas, como vimos em Recife.
🌵 Secas prolongadas, que colapsam sistemas rurais no Nordeste.
🔥 Ondas de calor em cidades densas como São Paulo.
🏚️ E deslizamentos que atingem famílias em encostas frágeis.

Cada município tem seu “ponto fraco climático”. Mas você sabe qual é o seu?

O diagnóstico começa com perguntas simples, mas poderosas:

  • Quais bairros alagam primeiro?
  • Quantas escolas estão em áreas de risco?
  • Qual a capacidade da drenagem urbana frente a um evento extremo?

A boa notícia: não é preciso reinventar a roda. Hoje existem ferramentas acessíveis — como o MapBiomas, dados do CEMADEN, e plataformas colaborativas como o S2ID — que ajudam a cruzar informações sobre solo, relevo, ocupação, clima e infraestrutura. Indicadores como área impermeabilizada por habitante, percentual de população em áreas suscetíveis a desastres, ou capacidade institucional de resposta são essenciais para guiar decisões com base em fatos.

Em Petrolina (PE), por exemplo, um mapeamento rápido de vulnerabilidades levou à realocação de três escolas antes da temporada de chuvas. Resultado? Nenhuma interrupção nas aulas naquele ano — e uma economia de mais de R$ 500 mil em reparos emergenciais.

Diagnosticar é, portanto, antecipar. É transformar mapas em alertas, dados em decisões, incertezas em prioridades.

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